sexta-feira, novembro 26, 2010

A sobrecarga de atividades sobre os coordenadores, pesquisadores mais experientes, é outra característica marcante dos grupos. A participação desse coordenador na seleção do material e transmissão dos conhecimentos básicos é essencial e decisiva no início do processo de aprendizagem (MUNDIN, 2001). Após orientação inicial, o aluno continuará sua trajetória intelectual de maneira mais independente, mas ainda assim o acompanhamento do professor será fundamental.
De acordo com Maculan e Furtado (2000), o maior desafio enfrentado pelos grupos de pesquisa diz respeito à cooperação com empresas. A incorporação e aplicação dos conhecimentos gerados no meio industrial é um dos maiores desafios. Segundo os autores, com poucas exceções, os grupos de pesquisa brasileiros se apresentam pouco vinculados aos sistemas produtivos, impedindo a transferência de conhecimentos nos dois sentidos. Uma das explicações seriam as dinâmicas distintas de produção do conhecimento. Enquanto grupos de pesquisa mantêm o caráter de pesquisa científica e avançada, as empresas buscariam conhecimentos para a solução de problemas técnicos de curto prazo.
Todos os desafios apresentados devem ser enfrentados e ultrapassados, já que a atuação dos grupos de pesquisa é fundamental para a inovação e a criação dos conhecimentos necessários ao desenvolvimento econômico e social (STRAUHS; ABREU; RENAUX, 2001). A gestão do conhecimento apresenta-se com um dos principais instrumentos.


5 - A gestão do conhecimento em grupos de pesquisa
De acordo com Strauhs et al. (2001), a alta rotatividade dos alunos representa uma perda para o grupo de pesquisa, pois importantes conhecimentos e ativos intangíveis acompanham o aluno que deixa o grupo. Segundo os autores, perdem-se competências, formadas pela união dos conhecimentos e experiências de todos os pesquisadores (STRAUHS; ABREU; RENAUX, 2001).
Segundo esses autores, o ideal seria que a saída de um integrante do grupo de pesquisa fosse precedida de uma fase de " [...] transferência do conhecimento adquirido [...] para os outros integrantes" (STRAUHS et al., 2000, p. 25). Trata-se de uma visão simplificadora. A solução, no contexto da GC, é mais complexa do que uma mera fase de transição. Independente disso, a menção é um reconhecimento da importância da GC por pesquisadores não envolvidos com o tema; mais imparciais, portanto.
Além disso, iniciativas de gestão do conhecimento podem ser direcionadas aos grupos de pesquisa com os objetivos de: estimular a criação de conhecimentos continuamente; estimular o compartilhamento dos conhecimentos além das fronteiras do grupo de pesquisa; acompanhar a evolução do nível de conhecimento dos integrantes do grupo; permitir o acesso, a geração e a organização das informações geradas no mundo (RENAUX et al., 2001).
Brand (1998) demonstra, a partir da experiência da 3M, que a conversão tácito-tácito do modelo de Nonaka; Takeuchi (1997) é fundamental para favorecer a gestão do conhecimento em organizações cujo objetivo principal é a inovação, tal qual em grupos de pesquisa, resultado este reforçado por Al-Beraidi; Rickards (2006) e Andriopoulos (2001).
Com a participação do grupo em redes de pesquisa a gestão do conhecimento assume ainda maior importância. Os modelos de GC deveriam apoiar também o compartilhamento com outros grupos de pesquisa e, idealmente, incluir empresas ou outras organizações que porventura participem da rede. Ampliam-se os desafios da conversão e retenção do conhecimento gerado.
As problemáticas da GC aplicada a grupos de pesquisa e da GC aplicada às redes são pouco conhecidas e não foram encontrados modelos teóricos durante a revisão. Fez-se necessário criar um referencial específico para o trabalho. Optou-se por fazê-lo a partir de referências de trabalhos correlatos: tanto de GC aplicada a organizações com alto nível de inovação, quanto trabalhos sobre o funcionamento de grupos de pesquisa. São eles: Silva (2002); Silva et al. (2003); Sato (2001); Latour e Woolgar (1997); Leonard e Straus (1997); Bauer e Macedo (2000); Marcovitch e Baião (1999); Mosconi (2003); Amaral et al. (2003) e Souza (2004). A próxima seção descreve o modelo teórico utilizado.
                 
6 - Modelo teórico empregado na pesquisa
As organizações têm sido analisadas e consideradas a partir da abordagem por processos de negócio (GONÇALVES, 2000). Iniciativas em gestão do conhecimento (GC), mais modernas também, têm sido realizadas a partir da visão de processos da organização.
O levantamento bibliográfico procurou, então, identificar a definição do processo de pesquisa e as atividades que a compõem. Como não foram encontradas referências específicas, fez parte da pesquisa a sua identificação. Utilizou-se como ponto de partida o trabalho de Latour e Woolgar (1997) que, a partir de um enfoque antropológico, descreve o processo de pesquisa científica.
O processo de pesquisa foi definido como o conjunto de atividades pelas quais um pesquisador planeja e realiza um projeto de pesquisa, considerando o seu fim como sendo a divulgação do trabalho (por exemplo: defesa da dissertação ou tese). A versão inicial de modelo teórico de processo de pesquisa foi definida guiando-se em Latour e Woolgar (1997). Foram identificadas 9 fases segundo a referência citada, são elas:
·         definição de linha de pesquisa e tema;
·         aquisição de recursos;
·         seleção do aluno;
·         adaptação do pesquisador ao grupo;
·         elaboração do projeto de pesquisa;
·         coleta de dados;
·         análise dos dados;
·         e divulgação dos resultados parciais e finais.
A revisão bibliográfica sobre pesquisa científica demonstrou também que esse processo é intimamente ligado à gestão do conhecimento. No decorrer da pesquisa científica, vários conhecimentos são absorvidos, criados e divulgados (LIYANAGE et al., 1999).
As atividades do processo de pesquisa que contribuem para os ciclos de transformação do conhecimento são denominadas, neste trabalho, de práticas de gestão do conhecimento, pois são atividades ou iniciativas que promovem a gestão do conhecimento durante o processo de pesquisa. Além dessas atividades, incluem-se os contatos realizados por meio de redes informais, comunidades de interesse e comunidades de prática, as quais também contribuem para a transformação e disseminação do conhecimento. Um processo de pesquisa e suas práticas em gestão do conhecimento resultam na formação de pessoas, publicações e patentes, já em casos mais raros, produtos.
Com o intuito de realizar esta análise, empreendeu-se um levantamento da bibliografia sobre o tema, que permitiu identificar 42 práticas de gestão do conhecimento, específicas para grupos de pesquisa. Elas foram agrupadas segundo as fases do processo de pesquisa e são descritas na Tabela 1. Ao final de cada prática identifica-se a fonte bibliográfica.







7 - Método
7.1 Escolha do método
Em relação ao seu objetivo, a pesquisa pode ser classificada como descritiva e qualitativa, pois procura descrever as características de um determinado fenômeno (CERVO; BERVIAN, 1983); há a preocupação com a atuação prática (GIL, 1999) e o objeto de pesquisa não é medido através de métodos e relações objetivas, e sim através da verificação de relações entre várias situações e aspectos subjetivos.
A estratégia, de acordo com a classificação de Yin (1994), é o estudo de caso. A coleta de dados pode ser classificada como entrevista em profundidade, segundo Roesch (1999), pois esta forma é adequada para pesquisas qualitativas realizadas em situações e contextos que não foram previamente estudados. A estratégia adotada mostrou-se capaz de lidar com a quantidade de grupos e restrições de tempo. Delineamentos mais profundos e de emersão, tais como observação direta ou mesmo pesquisa ação, apesar de interessantes, seriam inviáveis devido ao tempo disponível para a realização da pesquisa.


8 - O problema geral

O relacionamento entre pesquisa acadêmica, pesquisa básica e pesquisa aplicada é uma das questões fundamentais de política científica e tecnológica em todas as áreas de conhecimento. Essencialmente, esta questão tem a ver com as motivações do pesquisador e com o destino, ou a apropriação social dos frutos de seu trabalho. Para efeito desta pesquisa, entenderemos por "pesquisa acadêmica" aquela que tem por motivação a descoberta de fenômenos empíricos importantes, que possam avançar o conhecimento em determinado campo, de acordo com o consenso da comunidade de especialistas. Por "pesquisa aplicada" entenderemos aquela que tem um resultado prático visível em termos econômicos ou de outra utilidade que não seja o próprio conhecimento; e por "pesquisa básica" aquela que acumula conhecimentos e informações que podem eventualmente levar a resultados acadêmicos ou aplicados importantes, mas sem fazê-lo diretamente.

A questão do relacionamento entre as diversas formas de pesquisa científica tende a ser colocada usualmente de forma abstrata, como oposição entre dois modelos alternativos de entender e justificar o trabalho científico. O primeiro modelo privilegia a pesquisa acadêmica, como aquela mais capaz de levar ao desenvolvimento intelectual e à criatividade dos cientistas, o que levaria ao desenvolvimento dá pesquisa aplicada como sub-produto; o segundo privilegia a pesquisa aplicada, vendo nela a forma de vincular o trabalho científico com as necessidades econômicas e sociais e entendendo a pesquisa mais acadêmica como simples investimento necessário ao melhor encaminhamento dos trabalhos aplicados.

A confrontação abstrata entre estes dois modelos tende a ignorar a realidade com a qual trabalham os cientistas, que é sempre o resultado de uma combinação entre demandas, expectativas e aspirações nem sempre coincidentes ou convergentes. Cientistas são chamados a fazer pesquisas acadêmicas, a dar aulas em cursos de graduação e pós-graduação, se preocupam em contribuir para atividades socialmente relevantes, zelam por suas carreiras profissionais, e buscam trabalhos que lhes dêem rendimentos satisfatórios. Nem todas estás atividades são necessariamente convergentes: dar aulas tira tempo de pesquisa, a pesquisa acadêmica pode favorecer o reconhecimento profissional do cientista (e, por conseguinte, sua carreira a longo prazo) mas afastá-lo de trabalhos socialmente mais relevantes e melhor remunerados, e assim por diante.

O reconhecimento desta complexidade, diversidade e diferenciação da atividade científica não deve levar ao abandono dos esforços por entender e explicar o que ocorre a partir de um contexto conceitual mais sistemático e ordenado. A estratégia que utilizaremos para isto será a de considerar os dois modelos indicados acima como dois "tipos ideais" que possam servir de parâmetros para a análise; a eles acrescentaremos um terceiro, menos freqüente na literatura de sociologia da ciência, mas bastante importante, que é o modelo da ciência como atividade tecno-burocrática.

 9 - Relevância geral da pesquisa


É possível resumir a relevância geral dá pesquisa nos seguintes itens:
a. ela permitirá ter uma idéia bastante concreta, e não mais normativa ou especulativa, a respeito do relacionamento efetivo entre o trabalho científico que se realiza no Brasil e os diversos objetivos que diversos setores da sociedade esperam da ciência: contribuir para o desenvolvimento econômico-social, contribuir pára o conhecimento enquanto tal, melhorar o nível do sistema universitário do país, permitir o fortalecimento de certas organizações e instituições.

b. ela permitirá ter uma idéia bastante realista a respeito de duas comunidades científicas"de ponta" no Brasil de hoje

c. ela ajudará a desenvolver uma metodologia de pesquisa e uma abordagem teórica ao problema do desenvolvimento científico do país até hoje não tentada no Brasil.

d. ela dará continuidade ao trabalho iniciado no estudo do GEDEC a respeito do desenvolvimento das ciências naturais no Brasil, trazendo-o à atualidade.
Ao conhecer de maneira mais real e concreta o funcionamento destas duas comunidades científicas, a pesquisa poderá contribuir para responder perguntas do seguinte tipo:
a. pesquisas acadêmicas e aplicadas tendem a ser complementares ou contraditórias; nos casos estudados?

b. de que forma vêm se organizando e se desenvolvendo as comunidades científicas em função das diversas demandas e motivações que possuem?

c. qual a importância da vinculação entre os cientistas e os programas de pós-graduação, do ponto de vista da utilidade social e da qualidade de seus trabalhos?

d. qual o papel de instituições de pesquisa não universitárias, no mesmo ponto de vista?

e. qual o grau de autonomia ou dependência destas comunidades em relação a centros científicos no exterior? Em que medida elas já se constituem em núcleos auto-referidos, capazes de desenvolvimento auto-sustentado?

f. Como estão estruturadas internamente estas comunidades, e qual o papel de congressos, simpósios, associações profissionais, etc., para seu funcionamento?
Respostas a estas perguntas permitirão, se espera, o desenvolvimento de políticas científicas mais sofisticadas e mais sintonizadas com a realidade dos diversos setores da comunidade científica nacional do que tem sido possível até então. Na medida em que a (política de) pesquisa seja feita com a participação ativa dos próprios cientistas, ela permitirá também que eles aumentem a consciência de suas dificuldades, potencialidades e possíveis caminhos de melhora e crescimento.


10- Referencias bibliográficas

Ben-David, J. The Scientist's Role in Society.

R. Bendix, "Science and the Purposes of Knowledge". Social Research, 42, 2, 1975.

Cole. Stephen, "Scientific Output and recognition: a study in the operation of the reward system in Science". American Sociological Review.

Cottrel, Alan. "The rise and fall of science policy", New Scientist , 72, 1976.

Crane, Diana Invisible Colleges Chicago, 1972.

Etzioni, A. The Semi-Professions and their organizations. New York, 1967.

 CHIAVETO,I.Gestão de Pessoas.
Rio de Janeiro, Campus, 1999.

MaXIMIANO, Antônio C.A. Teoria geral da administração: Da Escola Científica `Competitividade na Economia Globalizada. São Paulo: Atlas,2000.

LIMA, Karina Kuhl de. Amaral, Daniel Capaldo. Práticas de gestão do conhecimento em grupos de pesquisa da rede Instituto Fábrica do Milênio, maio-agosto 2008

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